sábado, 28 de março de 2020

2020 - Pause

Adiar os nossos sonhos nem sempre foi a decisão mais fácil da nossa vida. Não foi para mim aos 27 anos, nem nunca será para ninguém, seja isso a que idade for. Nós, humanidade pregamos uma partida a nós próprios em finais de 2019. Nem todo o mundo ainda o sabia, eu estava longe de o imaginar, todos estávamos longe de o imaginar. Mas quando nos caiu à porta, foi muito assustador. 

Era como acordar todos os dias num pesadelo. As coisas foram se perdendo ao logo dos dias, das horas. Não se vê carros nas ruas, não se vê pessoas e as poucas que se vê, estão tristes ou perdidas.

No mundo, hoje em dia, há todo o tipo de pessoas. Há os que têm medo, os que não acreditam, os que se riam e os que fingem que está tudo bem, mas que por dentro estão apavorados.

Sei bem que pertenço ao mundo do medo. Tive e tenho muito medo. Tenho medo do hoje, do amanhã e do depois. Um vírus atacou a nossa paz e por mais que todos os "meus" estejam bem, acredito que muita coisa de nós, nunca mais estará bem.

Muita gente diz que isto é como ir para a guerra, mas sem armas. O nosso exercito foi chamado para ficar em casa, pois essas são a melhor forma de poder travar qualquer coisa que se meta no nosso caminho. 

Eu nunca quis ser soldado, nunca tive curiosidade. Nunca quis ser enfermeira, muito menos médica. Mas fui chamada para a linha da frente desta batalha. Costumam dizer que Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados. Não sei se o somos, não sei se o sou. Mas gosto de pensar que sou o suficiente altruísta e corajosa mas poder encarar isto de frente sem perder aquilo que de melhor tenho...os meus e a minha vida.

Não trabalho na saúde, mas a pandemia do Corona Virus fez com que o Estado de Plano de Emergência permitisse que muitas entidades tivessem que estar dispostas a servir o interesse público. Eu estudei e licenciei-me para servir o público. É a minha formação, foi me instruída a ética e foi-me também dada a sensibilidade, ou responsabilidade de pensar e agir de acordo com o bem-estar de todos nós.

Não é que possamos fazer mais que a saúde, mas o pouco que vamos fazer, que seja o suficiente para poupar mais vidas, para descansar muitos mais corações e que, se realmente houver uma força superior a nós, que olhe por nós e nos ajude nesta hora. 


Aqui vai um desabafo, para me relembrar e saber que tudo no fim...valeu a pena.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Dias assim

Há dias assim. Dias que nem parece que dormes, que sonhas, que desligas do mundo real. Há dias assim. Os que não sabes se precisas de um copo com um café forte ou de uma cama gigante cheia de almofadas para te enfiares o dia todo e nem saberes de que cor o céu decidiu aparecer hoje.

Há dias assim. Dias que o mundo bem podia pedir feriado, que todas as frases positivas te parece tretas e balelas de alguém que não sabe que o mundo real, o piso em que todos os dias tocas é feito disso mesmo: rotinas, gente chata, responsabilidades e negativismo. 

Há dias assim e somos nós que os temos que encarar. Nós, os crescidos, os ditos adultos, os que deviam acreditar que amanhã vai vir melhor e é tudo uma questão de tempo. Mas depois, há dias assim, que parece que acordas desse sonho em que vives, nessa esperança, nessa ilusão e te apercebes, - como que a deixar de ser criança para adulto -, que afinal ainda tudo continua igual. Continuas no mesmo emprego, acordar à mesma hora, a ir ver as mesmas pessoas e ter que fazer as mesmas coisas. Que o caminho para casa continua a ter o mesmo buraco que ontem e a semana passada e o mês passado, que os teus fins-de-semana não sabem a tal porque tu continuas à um ano a jurar que vai mudar, mas que não tens maneira de fazer. Que continuas a bater na mesma tecla pela pessoa errada e te sentes culpada por não teres feito melhor, não teres sido melhor, para alguém que tu achas melhor e nem faz sentido o achares.

Há mesmo dias assim. E amanhã é outro dia, é verdade. Mas, seria muito pedir que esses dias...acabassem por não existir